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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Sex | 30.05.14

Não ser só "A professora"

Apesar de ter poucos anos disto, já me apercebi que sou uma professora (de dança) daquelas que, quando se apega aos miúdos, vira quase mãe deles. Nem sei como é que me espanto com isso...no que toca a bebés e criançada em geral, sempre fui daquelas brutinhas a falar mas coração mole a agir. Nesse aspeto, revejo-me um pouco na figura feminina mais presente na minha vida, que para além de ser uma mãe extraordinária, é também a melhor educadora de infância que já conheci (e não o digo por ser quem me carregou no ventre).

 

Avançando, hoje um dos meus meninos da Academia chegou muito triste ao pé de mim e disse-me que, afinal, não poderia participar no espetáculo final de ano. Perguntei-lhe porquê (já também tristissima e a tentar controlar-me), ao que o menino me respondeu que a mãe e família próxima estariam a trabalhar e que ele não teria como chegar ao Teatro. A mãe entendeu a conversa e veio falar comigo também, abalada por fazer esta desfeita ao filho de 8 anos, que esteve o ano todo ansioso por finalmente pisar um palco. Ainda tentei arranjar uma solução, mas em vão. 

Na hora de ir dar a aula, o D desceu comigo, de lágrimas nos olhos, e a dizer que queria apenas assistir. Insisti que poderia aprender o resto da coreografia mesmo sem indo ao espetáculo, mas ele desabafou um "é pior, sinto-me ainda mais triste" que me deixou de rastos. Passei a aula toda a ver a sua cara de bambi abandonado a olhar-me do espelho, enquanto eu montava o resto da coreografia com os seus amigos. Foi complicado pôr de lado o coração para tornar aquela hora de ensaio proveitosa. 

 

A meio da aula, a Diretora da Academia quis falar com o D. Prometeu-lhe que arranjariam forma de ele ir dançar, desse por onde desse. 

O menino ficou mais animado e eu fiquei muito grata à Diretora M pelo gesto, apesar de ter ficado com uma "major question" a pairar-me na moleirinha: E SE não conseguem mesmo que o miúdo chegue ao Teatro naquele dia?"

 

Em menos de nada, soube a resposta. Como se tivesse sido iluminada por um neuroniozinho qualquer adormecido, e que este tivesse feito desaparecer a nuvem de cansaço que me pairava em cima. Apesar de saber que poderia ser mais uma "tentativa" em vão, pedi licença para sair por 5 minutos e fui falar com a mãe do D ao corredor.

Perguntei se o menino morava perto da Academia. E, felizmente, mora MUITO perto. E portanto, respirei fundo por nem acreditar no que estava a propor, e atirei um: "E se eu o for buscar a casa nesse dia e formos os dois de transportes para o Teatro? E depois da atuação, trago-o de volta."

Os olhos da mãe brilharam. Agradeceu-me ate não poder mais. O miúdo ainda não sabia, mas imaginei a sua felicidade. A rececionista olhava-me como se eu tivesse enlouquecido de vez, já que eu sou a que mora na outra margem do rio e também a que ainda vai ter de fazer um enorme desvio no trajeto, e a que vai apanhar montes de transportes a um Domingo (que são extremamente mais escassos), com um miúdo de 8 anos que não me é nada à minha total responsabilidade. 

 

A tentar ir em meu auxilio, o corpo docente da Academia prometeu tentar encontrar uma solução mais "viável", mas não puseram de parte a minha, já que seria um "último recurso" a ter em conta.

 

Quanto ao D, nem teve uma reação muito expressiva... apenas dançou e ensaiou o resto da hora com uma força que eu nunca lhe tinha conhecido... o que para mim, bastou.

 

Nestas alturas entendo que não dá para ser "Só professora". Não para quem gosta do que faz; Não para quem se preocupa; Não para quem ganha um carinho especial pelos "minimeus" que ensina uma ou duas vezes por semana.

Se rocei a linha que separa "professora dedicada" de "pouco profissional"? Sim.

 

Mas caramba... vai tão valer a pena!

 

 

PS: Muito obrigado ao corpo docente da Academia, pela tão extraordinária preocupação em solucionar as tristezas de um pequeno bailarino "hip-hop'er" de 8 anos <3

Dom | 25.05.14

Nas núvens

Sabem quando vocês têm daquelas ideias que, na altura, acham extraordinárias, e que quando chega o dia de pô-las em prática, ficam a perguntar-se: "Mas onde raio estava eu com a cabeça?"

 

Pois é... Aqui a Ju decidiu, no Natal passado, presentear o namorado de várias formas: Vai de relógio que ele tanto queria, vai de camisola que lhe fica tão bem, vai de cartão fofinho cheio de palavras lamechas à-la-Joana sobre o nosso primeiro Natal e coisas que tais... e vai de um voucher da groupon com "Voo de Parapente para duas pessoas". (euzinha a tentar ser imprevisível, divertida e dinâmica)

Ele amou a ideia, concordámos esperar que os meses de mau tempo passassem para então marcar o nosso "voo"... e assim chegou Maio.

 

Acho que nunca me apercebi muito bem da dimensão do que lhe tinha oferecido, até chegar à praia de Santa Rita, em Santa Cruz. Quando olhei para a falésia onde nos encontrávamos, e quando me apercebi da altura a que estava, do vento que me ia guiar, e do quão "ingénuo" era todo o material dos parapentes... fiquei de todas as cores. Pior ainda foi quando o João iniciou a descolagem (era um de cada vez, e ele foi primeiro)... vi-o a fazer umas manobras manhosas no ar, com o senhor "guia" atrás dele, todos eles divertidos de braços abertos a fingir que eram pássaro e a balançar por todo o lado como putos num baloiço pendurado nas nuvens, a ganhar e a perder altidude e velocidade... e eu cada vez mais cagada de medo, a fincar os pézinhos no chão e a dizer a um amigo: "Francisco, vai tu! A sério, vai por mim, eu deixo!" Já não estava mesmo a achar piada nenhuma àquela brincadeira!Toda uma Joana já em primórdios de pseudo-pânico e a hiperventilar...

 

Lá chegou a minha vez, e o João foi o próprio a trazer-me o capacete para colocar. Vinha empolgado e a dizer "tens de ir, vais-te arrepender se deixares escapar esta oportunidade!"... e com essa me convenceu (well, kind of).

 

Os senhores da organização eram de uma enorme simpatia, e o meu "guia" era um porreiro, tinha uma voz que transmitia imensa calma e segurança, o que me ajudou a posicionar para tirar os pés de cima da falésia e deixar-me levar pelo vento.

 

Agora (com as patas beeeem fincadinhas no chão) digo que foi uma daquelas experiências que, de facto, valem o que custam. Por meia hora fui presenteada por uma sensação de liberdade única, fui apreciadora de uma paisagem brutal vista de ângulos que de mais nenhuma forma poderia ver, e pude ainda sentir a adrenalina de umas quantas manobras que o meu "guia" lá me convenceu a fazer.

De facto, não teria sido nada fixe perder esta oportunidade pelo medo de arriscar... e com isto, reforço mais uma lição de vida: dar importância aos instintos e forçar-nos a sair da nossa zona de conforto, sempre que possível. É essa a melhor forma de nos sentirmos vivos :)

 

Tenho de felicitar e recomendar a PlanoAr, empresa pela qual fomos realizar este pequeno sonho de "voar sem asas". Muito profissionalismo e simpatia, obrigado por tudo!

Quanto ao João, ficou com um sorriso nos lábios o resto do dia, e fartou-se de me agradecer. Fico feliz por ter conseguido proporcionar esta experiência aos dois. Já que "a vida são dois dias", mais vale transformarmos tamanha brevidade em algo único <3

 

 

 

 

 

 

 

 

Qui | 22.05.14

Último dia

Amanhã é o meu último dia como estudante da Faculdade de Motricidade Humana... e para variar, estou a tentar armar-me em engraçada e não falar sobre o assunto, só para não ser invadida por aquela sensação de nostalgia que tantas vezes me desorienta.

Ali fui feliz, acima de tudo (do mau e do bom). Ali cresci.

Hoje digo, pela última vez (para bloquear todo o tipo de sentimentos que possam tentar surgir relativos a este tema):

Obrigado, FMH <3

 

 

 

 

 

 

 

 

Qua | 21.05.14

"Godzilla"

Não costumo ser (nada) fã de filmes com bichezas gigantes que levam tudo à frente e que se alimentam de radiações e cenas dessas estranhas... mas vai daí que gostei do "Godzilla", filme para o qual me arrastaram ontem à noite. Leva o seu tempo, mas toda a história, apesar de girar à volta do caos e do pânico e de ser passada em vários continentes, está muitíssimo bem estruturada e nada previsível. E olhem que o ator principal também é um bichinho, mas daqueles fofinhos de olhos verdes a ter em muito boa consideração ;)

Aconselho!

 

Ter | 20.05.14

XIX Gala Globos de Ouro

 

 

Há bailarinos que, como eu, quando recebem uma chamada a perguntar a disponibilidade para um trabalho que adorariam fazer, pensam imediatamente:

"Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deeeus! Consegui, brutal, maravilhoso" e coisas que tais...e passados os segundos da euforia, vem a parte do pânico: "será que estou à altura? Será que consigo?"

 

Esta é, meus amigos, a luta diária de quem alcança objetivos e não acredita ser merecedor de tal coisa. É, infelizmente, o meu caso.

Quando me ligaram a perguntar se poderia ser bailarina nos Globos de Ouro deste ano, saltei que nem parva de felicidade, mas nessa noite mal dormi devido ás minhas inseguranças.

Foram dez dias de ensaios e nem por isso a pressão que sentia diminuiu, ainda que tenha feito um excelente trabalho a demonstrar aos restantes colegas o contrário.Dez dias de ensaios, dez dias de dúvidas, dez dias de suor, a ouvir gritos e directrizes, de dores musculares, de cansaço... e no entanto, dez dias inesquecíveis de uma forma incrivelmente positiva.

Éramos 20 bailarinos e nem todos sorriam uns para os outros... nem todos os que já têm uma carreira dita "sólida" (se é que isso existe no mundo das Artes) há mais de uma década, gostaram de dançar lado a lado com os que ainda têm uma carreira de três anitos. Mas também houveram aqueles que preferiram lembrar-se de como e onde começaram, e ajudar os menos experientes. E portanto, posso mesmo dizer que conheci gente maravilhosa que me ensinou imenso.

Revi também pessoas que não via desde o programa "Da Rua para o Palco", que esteve no ar no Verão de 2012. Foi maravilhoso estar com o pessoal que, de certa forma, fez parte do meu "salto" para o lado mais profissional da Dança. Foram, sem dúvida, a minha salvação nos momentos mais "hostis" de trabalho, e nas horas infindáveis de espera nos bastidores, nestes dois últimos dias.

 

Conheci também mais uns quantos atores/cantores/humoristas/apresentadores, e é sempre muito engraçado conviver com eles fora do ecrã e perceber quais correspondem àquilo que realmente aparentam ser; e é também extraordinário rever aqueles com os quais fizémos amizade anteriormente (obrigado pelas palavras e pela força, Pedro e João Paulo!), incluindo aqui também as cabeleireiras e maquilhadoras, que são as melhores confidentes nas horas que antecedem o "luzes, câmaras, ação".

 

Como sempre, tenho de agradecer à minha família, ao meu namorado e aos meus amigos, pelo apoio incondicional, pela paciência e pelo mimo nas horas mais dificeis. Porque sim, eu tenho sempre muitas horas difíceis, e é preciso muito amor, amizade e força de vontade para manter as pessoas por perto :P

 

Agradeço também ao coreógrafo Marco de Camillis, sem o qual nada disto teria sido possivel, sem o qual não estaria de certeza onde estou hoje, e sem o qual não teria o mesmo "cabedal" para aguentar metade.

 

Quanto à "noite dourada"... essa, ficará para sempre guardada na minha memória como uma chuva de luzes, brilho, aplausos, câmaras, música e principalmente Dança.

 

 

 

 

 

 

 

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