Qua | 31.07.13
Crise e merdas afins
É assustadora a rapidez com que os portugueses têm sido "encostados à parede". E é ainda mais assustadora a falta de oportunidades e recursos que se faz sentir.
Os nossos avós são obrigados a preocupar-se com a qualidade de vida que terão nos seus últimos anos; os nossos pais são obrigados a preocupar-se com as condições em que vivem o dia-a-dia, sempre com medo de lhes faltar tanto dinheiro como esperança... vivem em constante stress por não saberem se amanhã perderão o seu trabalho e se deixarão de ter recursos para se sustentarem a eles próprios e a nós; e nós somos obrigados a viver na incerteza de sequer termos um futuro.
Faixas etárias à parte, vivemos todos num remoínho de acontecimentos políticos e económicos que nos deixa à deriva. E se a frase "go with the flow" fica bonita num anúncio da Coca-cola, na vida real já não é bem assim. Eu (como tantos outros) quero começar a planear realmente o meu futuro como pessoa activa na sociedade e não tenho como o fazer. Isto está cada vez mais complicado e sinto cada vez mais a realidade a atingir-me. Já não é o esforço e energia que deixamos na faculdade que vai ditar o que seremos mais para a frente, no que trabalharemos ou o que seremos... o ingresso na faculdade passou a ser apenas um acto de esperança e luta, um investimento que fazemos ás escuras, sem garantias e até com risco de prejuízo (e isso, pessoalmente, desmotiva-me de uma maneira estrondosa).
Nunca se sabe o dia de amanhã, mas no quotidiano da tão afamada "geração à rasca", da qual faço parte, já não há espaço sequer para sonhar. Vivemos num brusco e constante "ou vais ou ficas". Começamos a contentar-nos com trabalhos na caixa registadora de um supermercado e não pretendemos sair de lá tão depressa, porque ao menos é dinheiro que entra no final do mês. Quem outrora era chamado de "ambicioso", hoje é chamado de "ingénuo". Os lutadores deixaram de ser aqueles que estudam para ter uma vida melhor, para começarem a ser aqueles que simplesmente não desistem de procurar um trabalho que lhes dê pelo menos um pouco mais do que o ordenado mínimo.
Somos obrigados a ouvir discursos políticos na tv, onde aqueles canalhas passam a vida a dizer aos portugueses para terem calma, que isto é passageiro e já está a caminho da resolução; veem-se como heróis, quando na realidade são os broncos que nos deixaram neste estado. Dizem para aguentarmos firme e vivermos o nosso dia-a-dia, que isto mais tarde ou mais cedo lá se endireita. O que não entendem é que vida só temos uma, e convinha vivê-la sem estar à espera que terceiros mexam o rabo para resolver os nossos maiores problemas. Mas em vez de serem os profissionais e líderes que se comprometeram a ser perante o seu país (cof cof) preferem ir passar férias ao Brasil e conduzir os seus brutos carros topos de gama debaixo do nosso nariz. Qualquer dia vêm dizer que isso é um incentivo ao trabalho... só ainda não entenderam que o real e único incentivo que isso nos dá é a vontade cada vez mais aguçada de lhes enfiar um "head shot" pelos cornos acima.
É triste sermos tão novos e já nos sentirmos tão derrotados e despedaçados.