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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Ter | 11.06.13

Doble

Uma das coisas que mais me deixou estupefacta quando vivi em Espanha, foi ter descoberto através "de mi compi", por sua vez espanhol, que existia algo chamado "doble grado académico" naquele país.
Eu bem estranhei o rapaz dizer-me que ia tirar Economia E Direito, mas quer-se dizer... podia ser outro entusiasta que faria um curso atrás do outro, ou algum curso superior marado que pudesse juntar as duas áreas. Após aprofundar o meu espanhol e conseguir manter uma conversa minimamente decente com ele, percebi que o "doble grado" se baseia em concorrer não só a um curso mas a dois, e comprometer-se a ir fazendo os dois, alternando os semestres (no caso dele, fez "asignatuas" de Direito no primeiro semestre numa faculdade, e passou o segundo semestre a fazer "asignaturas" de Economia). Descobri depois que não só Espanha faz isto, como também muitos outros países da União Europeia.
Assim de que me apercebi de como a coisa funcionava, pensei: "MAS COMO RAIO PORTUGAL NÃO FAZ ISTO?" Tirava muitas crises existenciais a muita gente...do curso superior de dança então nem se fala! Existe esporadicamente um tema de conversa entre nós intitulado "O que eu quereria estudar se não estudasse Dança?" e as respostas são as menos inesperadas na sua esmagadora maioria. Existem interesses, sonhos e paixões que vão desde a Neurofisiologia, à Psicologia, à Educação de Infancia, à Economia... e no meu caso, o Jornalismo.
De tempos a tempos, invade-me a derradeira pergunta: "E se eu tivesse ido para Jornalismo? Já estaria a acabar o curso? Estaria feliz? Sentir-me-ia realizada? A minha experiência académica teria sido diferente? EU própria seria uma pessoa diferente, a conhecer pessoas diferentes e a ter um dia-a-dia diferente?"
Na realidade, o "diferente" é sempre uma faca de dois gumes. É tão aterrador quanto entusiasmante; é perigoso e ao mesmo tempo saudável. Os "e ses" são humanos, mantêm-nos com os pés um pouco acima do chão, para que não sejamos unicamente animais racionais. Mas por vezes fazem-nos sentir culpados; dão a ideia errada de que não estamos contentes com as opções que tomámos; que não estamos satisfeitos com a vida que levamos.
Bem... "E se eu estivesse neste momento a tirar o curso de Jornalismo?"
Na crise desse tipo de "E ses" tento sempre lembrar-me prontamente dos de outro tipo:
"E se não tivesse ido para Dança?"
Avaliando isto desta forma (não sei se lhe hei de chamar "positiva" ou não) sei que fico bem com as escolhas que fiz. Fico feliz com elas, e orgulhosa dos meus progressos e da minha evolução até aqui.
Se me perguntarem se me sinto completa? Não.
Nunca me contentei com pouco, e das vezes que o fiz dei-me mal.
Talvez o meu futuro passe por acabar esta licenciatura e iniciar o Jornalismo como sempre quis. Ou talvez tenha de ser um sonho que tenha de ficar na prateleira a ganhar pó. Só Deus sabe como será a minha vida amanhã.
SE Portugal seguisse por uma vez na vida os passos os espanhóis (mas só neste aspecto xD) e instaurasse o "Doble Grado" acredito que existiriam muitas mais alminhas a parar de olhar para a vida apenas para o que está visivel a um curto espaço de distância e começasse a usar a visão periférica para algo mais do que ver a roupa da pessoa que se senta ao seu lado no autocarro.
 
O problema de Portugal é este... só vê com "palas de burro nos olhos". Vemos de forma retrógada e achamos que somos grandes senhores da inovação.
 
Já está um pouco na hora de deixarmos de ver tudo às unidades e começarmos a ver um pouco a "Doble" também.