Ter | 01.10.13
Ponto de ruptura
Hoje vim de boleia com o meu afilhado (académico) para casa depois de uma aula intensiva de duas horas e meia de Fisiología do Exercício. Vínhamos descansados da vida a realizar o trajecto por cima da ponte Vasco da Gama, quando nos deparamos com uma fila enorme de carros em cima da mesma e reparamos numa senhora com os seus 40 e tal anos empoleirada do lado de fora, pronta para saltar. Nós estávamos nas faixas contrárias e nada podíamos fazer. O Sérgio ainda gritou um "não faça isso" bastante sentido, mas sem efeito. A senhora estava num estado de transe (puro desespero) que não a permitia concentrar-se em mais nada do que no rio para onde pretendia saltar para acabar com a sua vida. Foram precisos três rapazes pararem o carro mesmo ao seu lado e puxarem-na para o lado "seguro" da ponte. Como ela não colaborava, tiveram de a pegar ao colo, os três em simultâneo, levando com os seus pontapés, os seus gritos e choro, e a sua vontade de voltar para o lado do abismo.
Finalmente a fila de carros voltou a andar... e nós, impotentes, continuámos ( a ajuda estava a chegar e não valia a pena causar mais caos na estrada).
Saí dali com um aperto horrivel no coração. As lágrimas queriam à força escorrer-me pelos olhos, mas não quis que o Sérgio visse, e por isso contive-me. É aterrorizante o que o desespero pode levar uma pessoa a fazer (Como o país está, até posso adivinhar que terá sido por questões financeiras, mas nunca saberei ao certo.)
Não consigo esquecer a cena que presenciei, nem a cara da senhora.
Suicidio... que tipos de situações nos levam a crer que a nossa vida já não tem volta possível? O que nos leva a esse ponto de ruptura?