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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Qua | 22.01.14

"Born to dance"

Se há momento em que os meus alunos mais pequenos deliram, é quando descobrem as minhas tatuagens. E há alguns que demoram mesmo o seu tempo! Ora por causa dos meus casacos, ora por causa das camisolas XXL com que dou as aulas, ora pelo facto de eu mexer muito os braços (neste caso, o braço),ora porque tenho o cabelo a tapar-me as costas.... todo um conjunto de razões. Mas quando descobrem, parece que me apanharam a fazer alguma traquinice e descobriram a pólvora, o lado rebelde da pessoa a quem chamam de "professora". Hoje foi mais um dia de aula, com essa descoberta. Uma das minhas meninas desatou aos gritos da fila lá do fundo (tu não precisas de óculos de certeza, miúda!) a dizer "AAAAAHHHH A PROFESSORA TEM OUTRA TATUAGEM" (da do braço já elas tinham conhecimento). Correu para mim (que importa a continuidade da aula, não é verdade? -.-') para me perguntar se podia ver. Eu disse-lhe que sim e com um brilho de glória nos olhos, puxou-me a camisola para baixo a medo, como se qualquer movimento brusco em cima do dito desenho nas minhas costas me fosse doer. Obviamente que depois disto, não tinha uma, mas vinte aspirantes a dançarinas à minha volta, para ver também.

 

 

 

Aquando da tatuagem devidamente à mosta, todas soltaram coisas parecidas com "ahh que linda" ou "ainn que grande" ou "ooohh uma sapatilha e um téni, é o ballet e o hip hop". Mas a que estava mais próxima (a curiosa com visão indestrutível da fila mais atrás) ficou um tempo calada e depois perguntou: "O que é que diz aqui, professora?". Referia-se ao "Born to dance"escrito na fita da sapatilha. Expliquei-lhe então que estava escrito em inglês e que em português significava que eu nasci para dançar. Ao que ela me responde prontamente: "Que fixe, eu também nasci para dançar, sabia?".

Disse-me isto com toda a convicção do mundo, como se de repente tivéssemos algo em comum, como uma camisola da mesma cor vestida ou algo do género. Como se fosse tão óbvio quanto o seu nome.

Eu respondi-lhe um "Claro que sei" cheia de convicção também. Porque sei. Porque vejo. Porque sinto. Porque mesmo que ela não seja a menina mais talentosa do Mundo, o seu esforço e a sua paixão mostra-me que nasceu para isto. E a determinação nos seus olhos, ainda que com os seus prematuros 10 anos, dão-me todas as certezas que preciso... e que ela precisa.

Hoje a menina da fila de trás fez-me lembrar a menina que outrora fui. Igualzinha, sem tirar nem pôr. E posto isto, fez-me também lembrar a menina que tenho de continuar a ser.