Seg | 24.03.14
Sobretudo cansaço
Em jeito de quem anda a estudar Português de novo, só porque é maluca o suficiente para querer fazer uma segunda licenciatura sem quase saborear a vitória da primeira terminada, aqui vai o meu estado de espírito:
(Este grande querido fragmento de Fernando Pessoa nunca me deixou ficar mal com o seu palavreado. Aliás, não fosse ele um devaneio da quadripolaridade do outro, e eu achava que, ao pesquisar, ainda se encontrava algum grau de parentesco.)
"O que há em mim é sobretudo cansaço Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas - Essas e o que faz falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço..." Álvaro de Campos