STOMP - A percussão do coração
Bem, como alguns de vocês já sabem, há uns dias atrás fui ver o espetáculo da Companhía britânica "Stomp", ao Centro Cultural de Belém...E apesar de ter ido assistir com o gosto de quem já os esperava em Portugal há muito, também fui com a obrigação de tirar apontamentos para um texto alusivo à cadeira de Crítica de Dança. E portanto, acho que não existe melhor forma de vos falar deste espetaculo, senão com a crítica já devidamente feita e pronta a enviar :)
STOMP: A percussão do coração
Por: Joana Duarte
"O Mundo está rodeado de sonâncias, barulhos, ruídos… e, muitas vezes, com a pressa que caracteriza o nosso quotidiano (e com a nossa mania de apreciar apenas o que é palpável e visível aos olhos) esquecemo-nos não só de ouvir, como também de sentir o que nos rodeia.
E é tendo conhecimento desta nossa preguiça de “escutar”, que a Companhia Stomp (criada em 1991 pelo percussionista Luke Cresswell e pelo compositor e ator Steve McNicholas) trouxe a Portugal um espetáculo que nos veio desafiar os sentidos e “obrigar-nos” a apurá-los, numa verdadeira exploração de ritmos proporcionados pela relação corpo-objeto, e muitos momentos cheios de humor, facultados pela vertente mais teatral da Companhia.
O cenário é preenchido por muitos materiais que, no seu conjunto, nos dão a impressão de estarmos perante um ferro-velho, numa espécie de “confusão organizada”. Foi inteligente o cuidado que tiveram em deixar o cenário visível ainda antes do espetáculo dar início. Assim, existe tempo de olhar e apreciar, pois tem muitos detalhes que necessitam de prévia atenção.
Sabemos que a peça dá início, quando entra um performer em palco a varrer o chão, com uma vassoura, e nos deseja uma “Boa noite” em bom português. Com esse gesto, a simpatia do público fica assegurada (já que ninguém da Companhia possui nacionalidade portuguesa).
Entrando um a um, acabamos por nos deparar finalmente com sete intérpretes, sete vassouras, sete “boas noites” e uma melodia a começar a ser criada apenas com isso. O ritmo está instalado, e não sabemos quando irá parar.
À medida que a peça avança, o “fator novidade” continua incluído. São muitos os objetos que são explorados a nível sonoro e corporal, como se de uma “jam session” se tratasse: caixas de fósforos, tubos de carros, areia, água, lava-loiças (sim, lava-loiças), bolas de basquete, isqueiros… tudo numa variedade extraordinária de sons que desencadeiam ritmos frenéticos, a que os movimentos e coreografias realizadas vão corresponder.
Os skills dos bailarinos caracterizam-se por aquilo a que poderíamos chamar os 3 C’s: coordenação, concentração e cooperação. Denota-se a sua técnica no sapateado, mas não tão destacada quanto estava à espera. A técnica a nível teatral e musical é paralelamente visível, o que me leva a crer que temos perante nós uma Companhia britânica com uma versatilidade invejável na sua formação. O humor é também uma das chaves para o seu sucesso, assim como a interação com o público. Deste modo, não há o risco da monotonia se instalar entre as suas percussões e coreografias.
Terminamos a “viagem” da mesma forma que iniciámos. Sete intérpretes, sete vassouras, sete desejos de “boas noites”… reduzidos, de forma faseada, a um, e depois a nenhum. Estamos de novo só nós, o cenário… e a ovação em pé.
“Stomp” é uma receita de sucesso. Todos os ingredientes são colocados no tempo certo, na quantidade certa… e cozinhados ao ritmo da percussão do coração."
Hope you like it!