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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Seg | 21.04.14

STOMP - A percussão do coração

Bem, como alguns de vocês já sabem, há uns dias atrás fui ver o espetáculo da Companhía britânica "Stomp", ao Centro Cultural de Belém...E apesar de ter ido assistir com o gosto de quem já os esperava em Portugal há muito, também fui com a obrigação de tirar apontamentos para um texto alusivo à cadeira de Crítica de Dança. E portanto, acho que não existe melhor forma de vos falar deste espetaculo, senão com a crítica já devidamente feita e pronta a enviar :)

 

 

STOMP: A percussão do coração

 

Por: Joana Duarte

 

"O Mundo está rodeado de sonâncias, barulhos, ruídos… e, muitas vezes, com a pressa que caracteriza o nosso quotidiano (e com a nossa mania de apreciar apenas o que é palpável e visível aos olhos) esquecemo-nos não só de ouvir, como também de sentir o que nos rodeia.

E é tendo conhecimento desta nossa preguiça de “escutar”, que a Companhia Stomp (criada em 1991 pelo percussionista Luke Cresswell e pelo compositor e ator Steve McNicholas) trouxe a Portugal um espetáculo que nos veio desafiar os sentidos e “obrigar-nos” a apurá-los, numa verdadeira exploração de ritmos proporcionados pela relação corpo-objeto, e muitos momentos cheios de humor, facultados pela vertente mais teatral da Companhia.

O cenário é preenchido por muitos materiais que, no seu conjunto, nos dão a impressão de estarmos perante um ferro-velho, numa espécie de “confusão organizada”. Foi inteligente o cuidado que tiveram em deixar o cenário visível ainda antes do espetáculo dar início. Assim, existe tempo de olhar e apreciar, pois tem muitos detalhes que necessitam de prévia atenção.

Sabemos que a peça dá início, quando entra um performer em palco a varrer o chão, com uma vassoura, e nos deseja uma “Boa noite” em bom português. Com esse gesto, a simpatia do público fica assegurada (já que ninguém da Companhia possui nacionalidade portuguesa).

Entrando um a um, acabamos por nos deparar finalmente com sete intérpretes, sete vassouras, sete “boas noites” e uma melodia a começar a ser criada apenas com isso. O ritmo está instalado, e não sabemos quando irá parar.

À medida que a peça avança, o “fator novidade” continua incluído. São muitos os objetos que são explorados a nível sonoro e corporal, como se de uma “jam session” se tratasse: caixas de fósforos, tubos de carros, areia, água, lava-loiças (sim, lava-loiças), bolas de basquete, isqueiros… tudo numa variedade extraordinária de sons que desencadeiam ritmos frenéticos, a que os movimentos e coreografias realizadas vão corresponder.

 Os skills dos bailarinos caracterizam-se por aquilo a que poderíamos chamar os 3 C’s: coordenação, concentração e cooperação. Denota-se a sua técnica no sapateado, mas não tão destacada quanto estava à espera. A técnica a nível teatral e musical é paralelamente visível, o que me leva a crer que temos perante nós uma Companhia britânica com uma versatilidade invejável na sua formação. O humor é também uma das chaves para o seu sucesso, assim como a interação com o público. Deste modo, não há o risco da monotonia se instalar entre as suas percussões e coreografias.

Terminamos a “viagem” da mesma forma que iniciámos. Sete intérpretes, sete vassouras, sete desejos de “boas noites”… reduzidos, de forma faseada, a um, e depois a nenhum. Estamos de novo só nós, o cenário… e a ovação em pé.

“Stomp” é uma receita de sucesso. Todos os ingredientes são colocados no tempo certo, na quantidade certa… e cozinhados ao ritmo da percussão do coração."

 

 

Hope you like it!

 

 

 

Seg | 21.04.14

Para o "mar vermelho" já há notinhas verdes

Em primeiro lugar: os meus parabéns ao Benfica e a todos os benfiquistas espalhados por este Mundo fora. Eu sou uma delas. Não que seja a mais ferrenha do universo, mas sou. 

 

Em segundo lugar: eu não sou minimamente contra ir ver jogos de futebol. E este post não existe pelo meu desinteresse neste desporto e na sua febre.

 

Em terceiro lugar, e onde quero realmente chegar, sem ferir susceptibilidades: Eu gostava MESMO de saber como é que cerca de 70% das pessoas que estavam naquele estádio conseguem sacar de tanto dinheiro assim, sem tirar nem pôr, por algo que poderiam ver na televisão e ir celebrar de igual forma para o Maquês de Pombal. Eu sei, "bla bla bla não é a mesma coisa", "bla bla bla se fosse um espetáculo de dança também preferias mil vezes ver ao vivo." Pois preferia meus queridos, mas já dizia o meu avô, "quem não tem dinheiro não tem vícios." E por mim, éramos todos pessoas abastadas a viver à grande e à francesa, e a sacar de notas de 50 como quem saca do centimo caído no fundo da mala. Mas de facto, os tempos vão maus para todos. Nota-se... menos na altura de ir ver o futebol.

O que a mim me enerva profundamente é a hipocrisia das pessoas. Porque as mesmas que gastaram dinheiro em gasolina, portagens, bilhete e umas cervejinhas de celebração no final, são as mesmas que se dizem "apertadas", com dificuldades em gerir o seu dinheiro, de tão pouco que é, "aiaiai que não chega nem para o básico"... ou as que até afirmam, chorosas, nas Tardes da Júlia, que não têm como se sustentar, de todo; As mesmas que recebem do fundo de desemprego aquilo que o Estado vai sacar aos ordenados de pessoas que, à hora do jogo, estiveram a trabalhar; As mesmas que gritam que se desunham a celebrar as vitórias do seu Clube e que depois metem o rabinho entre as pernas nas manifestações, como se de uns conformados e oprimidos se tratassem. 

 

Meus queridos portugueses, já que entenderam que "juntos fazemos a força" (sim, porque o "mar vermelho" não se faz com uma ou duas pessoas, e sim com uma multidão), então aproveitem essa lição e saiam à rua no 25 Abril, para gritarmos pelos nossos direitos da mesma forma que gritam pelo futebol. A paixão e o orgulho é tanto que, se aplicado à vossa nacionalidade e ao que significa ser português, tenho a certeza que fará tremer o nosso Governo.

 

"Aaaaaachas, Joana?! O futebol é muito mais giro. Pelo meu Benfica vale a pena gastar todo o dinheiro do Mundo."

Pois ta claro, faz tooooodo o sentido.

 

 

Depois quando tiverem de emigrar porque "este país não tem futuro", bem que podem ver o Benfas pela caixinha mágica!