Maus dias, com boas notícias
Há dias que acabam por se revelar tão maus, que mais vale focarmo-nos na simples coisas que eles nos trouxeram de bom. Ontem, foi um mau dia, mas com a boa notícia de uma nota académica excelente. "Crítica de Dança" teve um final feliz com um 18 gordinho.
Para celebrar, substituindo o mau pelo bom, deixo-vos aqui a última crítica que tive de escrever para a Cadeira, baseada na peça de Anne Teresa de Keersmaeker, "Partita 2", que fez parte do Festival Alkantara deste ano, no passado mês de Maio. Devo dizer que a opinião não é a mais fofinha de todas, como foi a do Stomp. Gostos são gostos!
Hope you enjoy it :)
Partita 2 de Anne Teresa de Keersmaeker
“O mínimo que não se tornou em máximo”
Por: Joana Duarte
Impacto… existem várias maneiras de o criar. E por vezes, esperamos “tanto” que o “pouco” é o que mais nos surpreende. Assim começa, simples e inteligente, a coreografia “Partita 2” de Anne Teresa Keersmaeker. Um simples rodopio de sensações consequentes da fusão entre o cenário verde e natural dos Jardins da Gulbenkian, o blackout e o som que sai do violino de Amandine Beyer, que toca Bach a um nível de invejar a muitos. A nossa imaginação flui, quase que de forma involuntária, e assim, a coreógrafa consegue aguçar a curiosidade do público para o que virá a seguir.
Infelizmente, as expetativas criam-se em vão. Se o primeiro momento da peça foi tão extraordinariamente bem conseguido, já o restante nem tanto. O ambiente de paz e misticismo que nos traz a abertura da peça é drasticamente interrompido pelo silêncio e pelo escurecer que traz a noite ao Jardim. Acende-se um foco de luz ao canto do palco. Naquele momento já existem dois bailarinos nele, muito movimento, um cenário vazio e nenhuma melodia.
Anne Teresa De Keersmaeker e Boris Charmatz dançam uma coreografia extremamente repetitiva, que quase ultrapassa a linha ténue que separa o “interessante” do “cansativo”, e só não o fazem realmente devido aos seus movimentos serem tão divergentes: Ela, com a sua elegância e rapidez, e ele com a sua dificuldade angular, a sua impulsividade e descontrolo. Vão andando, correndo e movendo-se, dando muitas vezes a impressão de se encontrarem alienados do Mundo, e outras tantas de se encontrarem um ao outro.
Há também uma fusão entre o violino e os movimentos dos intérpretes, onde o público espera que haja uma certa sintonia, mas em vão.
Para os que entendem de dança, toda a peça poderia ser considerada um trabalho experimental… para os “leigos”, foi apenas um ensaio de uma coreografia mal pensada, pensamento que pode ser reforçado pela indumentária que apresentam, pouco cuidada e desproporcional a toda a produção.
O final remete para o enaltecimento da violinista. Um foco de luz é colocado ao seu lado, e os intérpretes olham-na. Involuntariamente, o público olha também.
Início inteligente, final competente, mas desenvolvimento pouco convincente. De facto, denota-se em toda a peça a assinatura do trabalho de Anne e Boris, mas a ideia de minimalismo que a coreógrafa quer apresentar é levado a um extremo negativo, que poderia ser confundido com “preguiça”. A tão famosa expressão de “Less is more” desta vez ficou-se pelo “Less is a mess”.