Há lugares que, tal como algumas pessoas, deixam marcas em nós. Marcas de água, que mal se vêem, mas que o coração sente e a nossa alma transporta. Há lugares que nos transformam, que fazem de nós outras pessoas. Que nos obrigam (ainda que involuntariamente) a interiorizar hábitos, características, pensamentos.
Há lugares que não são nossos, mas se tornam parte de nós. Que nos fazem rir nos seus dias de Sol à beira mar, que nos fazem chorar quando a saudade dos que estão longe aperta, que nos abrem o apetite quando entramos na melhor pastelaria, que nos educam quando entramos no estabelecimento de ensino que nos providencia... há lugares que nos aumentam a fé, tal é a grandeza (exterior e interior) das suas igrejas e catedrais, que nos ensinam o seu idioma, que abraçam os nossos costumes mas também nos fazem interiorizar os seus, que nos apresentam as suas pessoas... há lugares que, por vezes, queremos deixar o mais cedo possível ( não é fácil quando estamos longe dos que amamos), mas que quando deixamos, temos pena de ir embora.
Há lugares que são como os melhores amigos... lugares que têm o melhor abraço, dado pela sua suave brisa nas nossas horas de aperto; lugares que nos dizem as verdades (mesmo que doam), quando a trovoada é tão alta que nos faz doer os ouvidos; lugares que nos ajudam nas lutas diárias e nos permitem mover as pedras que encontramos soltas no seu caminho de calçada. Lugares que, dentro de nós, acabam por ter vida própria. E que assistem ao cair das nossas lágrimas, às nossas maiores gargalhadas, aos momentos em que nos perdemos nas suas ruas sem fim... lugares que nos ficam a ver apenas da janela, quando estamos tão cansados que não saímos para os ver, lugares que nos fazem sentir (e nós sentimos muitas coisas, todos os dias). Lugares que ouvem o "Amo-te" ao telefone, porque o vento lhes conta, que sentem o nosso coração bater mais rápido, porque o seu pulsar se sente no seu chão, como placas tectónicas a quererem dançar.
Há lugares que nos veem chegar e partir. Lugares onde prometemos voltar... e cumprimos.
Málaga, foi um prazer rever-te. Mudaste algumas das tuas feições, mas estás na mesma. Voltei para agradecer-te o quanto me transformaste. Em ti, foram muitas as vezes que me senti sem rumo, mas depressa me encontrei. Foi um prazer "perder-me" pelas tuas ruas de novo, e no entanto sentir-me sempre no sítio certo.
Alguém que aí revi nestes dias (por mero e belo acaso do destino) disse-me: "Estas con cara de una verdadera malagueña" (Estás com cara de uma verdadeira malaguenha).
Apesar de não saber ao certo que cara é essa, confirmo: "Soy malagueña de alma y corazõn".
Caros senhores/senhoras que viajam ao nosso lado num percurso de longo (ou até mesmo pequeno) trajeto, desta vez mais especificamente em autocarro:
- Se os lugares estão vagos ao lado de alguém que tem as suas coisas em cima do banco livre mas está a olhar pelo vidro e não está a ver que estão a querer sentar-se, peçam licença. A sério, é uma palavra mágica que fica bem em qualquer idioma e que faz com que automaticamente a pessoa mova as suas coisas para um outro espaço, de modo a que vocês se possam sentar. E se a magia for mesmo bem efetuada, ainda vos pede desculpa.
- Se a pessoa ao vosso lado está no típico "lugar à janela", é normal que não haja espaço para se mover mais para lá. Por isso não tenten arranjar espaço onde ele não existe. Mentalizem-se que terão de se sentir tão enlatados quanto os outros. E por falar em espaço, se a pessoa ao vosso lado deixa um espacinho (uma brecha, vá) de distância entre vocês e a respetiva, não é para acharem "porreiro, vou abrir as asinhas (ou as perninhas, o céu é o limite) e ficar mais confortável". É para que não haja cá toques. Há pessoas que não se sentem à vontade e se "espremem" mais contra o vidro para que todos se possam sentir o menos constrangidos possível. Não há cá confianças. Para esfreganços, vou ao Kaxaça no Sábado à noite.
- Se se apercebem que tombam a cabeça quando dormem sentados... pois então durmam para o lado de um conhecido, ou então... não durmam! A pessoa ao vosso lado não tem de estar a dar-vos o ombro ou a levar com a vossa cabeça de tempos a tempos. E se forem a pensar bem, é um risco que correm... uma pessoa paciente atura, mas uma pessoa menos paciente pode perfeitamente dar-vos uma marrada a ver se a cabeça vai tombar para o lado contrário. Eu cá não experimentaria, podem levar um galo como souvenir.
- Se a pessoa ao vosso lado já estava no autocarro antes de vocês e já tinha feito várias paragens antes de saber sequer que vocês existiam, então não mexam no ar condicionado da vossa cabine. Pelo menos não sem pedir autorização à pessoa, ou pedir-lhe para mudar a direção ou intensidade. Fica-vos mal, esse modo do "cheguei e é tudo meu".
- Não queiram colocar os vossos pertences ocupando parte do banco que é da outra pessoa. Não sei se é fixe para vocês terem um casaco que não é vosso pendurado praticamente na vossa cabeça, mas há quem não ache muita graça. Just saying.
- Se pretendem ouvir música numa viagem de mais de 8 horas que ocorre durante a noite, certifiquem-se que a música não está num volume audível para os restantes passageiros. Há quem queira silêncio e dispense as vossas batucadas acompanhadas de passos de dança minimizados pelo espaço.
- Se a pessoa que está ao vosso lado precisa de sair nas (escassas) paragens que o condutor faz e vos pede licença para passar, não façam má cara nem grunhidos e levantem-se. Quanto à má cara e aos grunhos é apenas de mau tom, e podem sempre sofrer as consequências levando uma caralhada como resposta. Quanto ao levantar, é uma questão de não levarem com o cu da outra pessoa na cara. E de ela não levar com a vossa cara no cu, já agora. Não é fixe. Há quem prefira esfregar o rabinho só em papel higiénico e dispense um nariz lá espetado. Mas isso sou eu.
- E por último, mas não menos importante: Lavem-se. Senhores, lavem-se como se não houvesse amanhã. E ponham um desodorizante, tenho a certeza que é algo que já existe praticamente em todo o lado (nem que tenham de esfregar rosas nos sovacos). E se por infelicidade vossa (e dos outros) só começarem a cheirar mal a meio do caminho, aproveitem as tais paragens para se irem higienizar. Num dois em um, vocês não têm de ter o nariz no rabo da outra pessoa quando ela passar, e a outra pessoa também não tem de sentir durante o caminho que tem, de facto, o nariz ao pé de um cu mal lavado.
São só umas dicas... manias minhas, que coisa chata!
Eu sei que para todas as vezes que escrevo, há uma desculpa pela ausência (prolongada ou não). O que importa que saibam é que volto sempre. Não há justificações que vos sejam estranhas... A primeira passou pela quantidade de trabalho, a segunda pela quantidade de afazeres para terminar o meu primeiro semestre ("Já passooooouuu, já passooooouuuu") e a terceira? Estou de viagem. Uma mini viagem no que toca à quantidade dos seus dias, mas uma grande viagem interior. Estou de volta a Málaga, cidade que foi minha por meio ano quando estive no Conservatório em ERASMUS, lugar que prometi rever assim que pudesse. Na epoca, foi um símbolo de transição e uma força para a mudança que nem sabia ao certo que queria mas que hoje vejo que era imprescindível para avançar com a minha vida e ser feliz. Pois bem, sem mais filosofias, estou por Málaga desde Sábado e cá me irei manter até terça à noite. Depois volto a vir aqui para estar e partilhar convosco. Sem desculpas ;)