Sobre ser multitask
Isto das pessoas "multitask" é um tema mais tabu do que parece, principalmente neste nosso pequenino Portugal. Para os portugueses (falo dos portugueses como poderia falar dos xinamarqueses se vivesse no meio deles), termos mais do que uma profissão ou fazermos mais do que uma coisa só tem 4 significados:
1º - Precisa de mais dinheiro, coitado/a;
2º - Não deve ter mesmo nada que fazer;
3 º - Não sabe o que quer;
4 º - Tem a mania.
Ora portanto, escusado será dizer que este é um texto para muitos, mas partindo da minha experiência pessoal. Desde cedo que me interesso por várias coisas, e sobre elas tento sempre assimilar ao máximo. Sou apaixonada pela Dança, e por isso é em volta dela que está a minha profissão. Amo escrever, e por isso, depois de muitos anos de prática, escrevi um livro e publiquei-o. E por falar em escrever, também sou blogger. E por falar em blog, também gosto de maquilhagem, de moda, de produção e edição de vídeo, e por isso criei um canal no Youtube. Já agora, também adoro fotografar, e por isso fiz um Workshop de fotografia (tal como pretendo fazer muitos mais). E tal como gosto de fotografar, gosto de tudo o que gira à volta da fotografia, e por isso também estou numa agência de modelos. Também amo crianças e adoro ensinar-lhes dança, por isso achei que faria todo o sentido tirar uma segunda licenciatura, desta vez em Educação Básica para complementar a minha aprendizagem e, quem sabe, vir a exercer.
Sou portanto, aos olhos dos outros, bailarina, professora de dança, escritora, blogger, youtuber e "pelos vistos, também quero ser fotógrafa e educadora/professora".
Não me considero metade do que nomeiam aqui, porque sou daquelas que acha que para se ser intitulada de algo, tem de fazer por merecer. Lancei um livro, sou escritora desse livro, mas não sou ESCRITORA... os escritores merecem ser distinguidos pela sua quantidade de obras e caminho percorrido, tal como qualquer pessoa numa profissão. Para mim, é tão parvo ser considerada escritora, como é parvo as dondocas da elite portuguesa no Verão virarem todas relações públicas, intituladas na revista Caras e Flash.
Mas por outro lado... E se eu for isto tudo? E se as dondocas forem relações públicas no Verão e outra coisa qualquer durante o resto do ano? O que é que as pessoas têm a ver com isso? Porque é que tem de significar que somos umas almas perdidas em busca de nós mesmas, só porque não vivemos apenas de uma profissão, um hobbie, uma rotina?
Quem é que já parou para pensar que sabemos tão bem o que queremos, que aproveitamos cada suspiro que damos para empreender no que gostamos? Seja "o que gostamos" apenas uma coisa ou mil coisas ao mesmo tempo.
Ser Multitask não é visto com bons olhos. O que mais oiço é (muitas vezes sem maldade) : "Ai mulher, tu não páras", ou "O que é que já foste inventar" ou, para mim, o pior de tudo: "Quando é que páras para de facto viver?"
As pessoas não compreendem que um Multitask que é multitask por opção, VIVE. Bastante, mais do que as restantes. Agarra-se ao que lhe dá prazer fazer, e faz com que dê frutos, sejam eles quais forem e do tamanho que forem, desde que a adrenalina de lá chegar os faça felizes e pessoas mais realizadas.