Despedidas com sabor a mar - PALAVRAS DANÇADAS #4
O céu estava limpo, ainda que o Sol teimasse em ir embora. Foi desaparecendo devagarinho atrás do horizonte, deixando para trás um tom dourado digno de ser saboreado com os olhos.
Foi o que ela fez. Naquela praia, naquele final de tarde tranquilo, despediu-se do Sol apreciando o espetáculo de cores sentada no areal. As ondas do mar tinham um compasso de ida e volta regular que a embalavam nos seus pensamentos.
Ela estava com medo. Receava sair daquela praia porque sabia que, quando saísse, nada voltaria a ser como antes e, simultaneamente, encontraria tudo igual. Pior do que enfrentar um recomeço radicalmente diferente, é voltar aos mesmos lugares com a ânsia da evolução e, ao mesmo tempo, com o medo da mudança.
Estes pensamentos dúbios faziam-na sentir-se ridícula, mas aprendera que de nada servia tentar combatê-los. Fechou os olhos e sentiu a brisa fresca a dançar com o oceano. Juntos, têm um odor capaz de curar muitos males.
Quando se sentiu pronta, levantou-se e levou os seus pés a tocarem timidamente no mar, em modo de despedida. O mar acariciou-os com a sua espuma branca e recuou para a ajudar a ir embora sem arrependimentos.
A praia já estava praticamente despovoada, reforçando o facto do Verão estar mesmo de partida. Ela virou costas e saiu lentamente daquele local para onde fora tantas manhãs e finais de tarde nos últimos tempos. Sacudiu os últimos grãos de areia dos pés no momento em que o Sol se escondia completamente, abaixo da linha do horizonte. Olhou-o uma última vez antes de este desaparecer, respirou fundo e sorriu. Quando voltasse, já não seria a mesma. Mais um ano tinha passado por ela, e mais um Verão tinha "voado". Agora era hora de abdicar daquele pedaço de paz para voltar à rotina e dar mais uns quantos tiros no escuro. Afinal, faz parte da vida. Tal como o mar pode ir de um estado sereno ao mais selvagem, também nós temos fases boas e más, sendo necessário aceitar o que vem com graciosidade e positivismo. Nem sempre é fácil encontrar aconchego num banho de águas geladas.
Entrou no carro com o coração determinado. Aguardavam-lhe mais lições, mais experiências, mais momentos...mas voltaria. E o verbo "voltar" era de um conforto sem igual.
"Para o ano não volto a mesma... mas volto."