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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Seg | 12.02.18

Elevados às alturas (versão dela) - Palavras Dançadas #8

 

 

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Nota: texto de cariz fictício

 

Elevados às alturas - VERSÃO DELA

"Estou sentada no meu carro depois de cuidadosamente o estacionar. Vejo-te passar, alheio aos olhos que te seguem. Caminhas com uma segurança insegura, indetetável aos que não te conhecem. Não sabes quem és, não fazes a mínima ideia do que podes ser. Podes ser tudo aquilo a que te propuseres, tens fogo latente no rosto que me faz ter a certeza disso mesmo. Podes mesmo ser tudo. Até podias ser tudo para mim.

Encontramo-nos no ponto que serve sempre de encontro obrigatório: no trabalho. Adoro o que faço, mas gosto um bocadinho menos quando me lembro no papel de tua superior. Somos amigos, é certo. Sabemos rir juntos dos tropeções, das gafes, dos esquecimentos provocados pelo cansaço… sabemos partilhar pedaços da vida que levamos em pequenas pausas que acontecem quando nos é permitido verdadeiramente respirar. Mas o título que carrego com orgulho é o mesmo que tu carregas com peso. Peso de pedras que te ajudam a construir uma barreira emocional cimentada pelas tuas inseguranças. Sou tua superior e no entanto tens mais uns 15 cm de altura do que eu... Irónico, não? Se pensasses como eu, já não andávamos a distinguir quem vê de baixo e quem vê de cima. Víamos à mesma altura.

Nos teus olhos, só vejo mar. Trazes a sua tranquilidade nas gargalhadas e a sua leveza na tua natureza jovem. Ainda assim, carregas também as suas tempestades e fazes de tudo para as esconder no lugar mais profundo desse oceano que bombeia sangue para o teu corpo. Quando as acumulas, essas tempestades tão grandes que tentas por tudo abafar, nascem as ondas que rebentam na costa sem dó nem piedade e que arrastam tudo consigo. Só não me arrastam a mim. Não… tu para mim guardas sempre um colete salva vidas. Mas eu não preciso de ser salva. Preciso que me deixes enfrentar a corrente. 

Pergunto-me vezes sem conta se esse colete salva vidas que tenho cativo é pelo título de Superior, de Amiga, ou de “Criatura pela qual sinto coisas que prefiro não descobrir”. Será assim tão mau tentares enfrentar esse teu próprio mar? Olhar com olhos de ver, com esses olhos castanhos esverdeados de uma profundidade sem qualquer tipo de esforço e que me fazem tremer os joelhos?

Talvez não me queiras ver. Não com esses olhos de ver. Talvez a minha cabeça também seja mar, confuso com as marés e as correntes opostas. Talvez o que eu vejo não seja o que vês. Talvez seja só mesmo a tua Superior, aquela que achas que olhas de baixo com admiração… mas, na realidade, aquela que te olha à mesma altura e que desejava encostar a cabeça ao teu peito, só por um minuto."

 

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Fonte da imagem (clicar)