O espetáculo "Pocahontas de outras histórias"
Já foi no passado dia 8 e 9 de Junho que eu e os meus alunos (92 no total) voltámos a pisar o palco do Fórum Cultural José Manuel Figueiredo. Todos os anos me sinto nervosa, cansada mas cheia de entusiasmo e adrenalina... este ano acrescia o medo, o cansaço duplo e a tristeza de ser a "despedida" de alguns dos meus alunos mais velhos. Disse para mim mesma milhares de vezes: "Foca-te no presente". É uma dificuldade da malta do signo caranguejo, o de manter a cabeça no presente. Mas eu também consigo diferir do meu próprio signo nesta parte: não fico com a cabeça presa ao passado, fico é a tentar perceber como será o futuro. E eu não conseguia encaixar na minha cabeça um futuro sem os que têm de ir embora por motivos académicos e profissionais (ainda que deseje do fundo do coração que consigam tudo aquilo que sonharam e pelo qual lutaram), porque estão comigo há demasiados anos, e foram colecionados demasiados momentos. Fazem parte da minha rotina, daquela rotina que me faz feliz. Naqueles dois dias de espetáculo (e arrisco-me a dizer, durante muito mais tempo do que isso), a minha cabeça estava presa ao "E depois, como vai ser?"
Foi desta maneira que fiz a estreia da Pocahontas: de rastos (nem sequer tinha conseguido dormir uma única hora na noite anterior), com uma tosse alérgica irritante, com uma lesão num dedo do pé direito, sem comer (só de pensar nisso, ficava nauseada) e com os sentimentos todos à flor da pele: os maus, mas obviamente que também os bons. Não era um quadro positivo para mim, mas não precisava que fosse. Quem importava eram eles. Correu tudo lindamente, como sempre. Disso estive sempre confiante, porque os meus alunos são de um profissionalismo brutal atrás do palco, desde os mais novos aos mais velhos. Apenas os pequeninos requerem sempre mais atenção (com 3-5 anos ninguém está à espera de outra coisa, certo?), mas ainda assim, são fantásticos.
Quando o primeiro dia passou, sabia que não sentiria alívio, porque havia o último dia para fazer... mas rezava que na segunda noite pudesse finalmente sentir as minhas emoções a normalizar. Não aconteceu. Apesar de já ter conseguido dormir e comer qualquer coisa, "caiu-me a ficha": este é o último. É mesmo o último de alguns deles. O último nosso, juntos. Arrependo-me de me ter deixado cair neste pensamento quando em média 5 alunos teriam de sair, mas haviam mais 87 que precisavam do meu foco. Tentei que esse foco existisse ao máximo e fi-lo por todos, ainda que tenha chorado como nunca chorei em cima de um palco. Acreditem, sou uma chorona do piorio, mas passei dos limites ao ponto de soluçar a dançar (ainda hoje sou gozada xD).
Mas passou, e passou muito bem. Os meus póneis são, como sempre, um orgulho que não cabe no peito. Encheram-me o coração de abraços, de mimos, de palavras e, mais importante, de dedicação e dança até ao último minuto. Numa sociedade em que a exigência académica nos deixa pasmados e em que os horários destes miúdos, dos mais novos aos mais velhos, parecem cronometrados ao segundo, com horários escolares incompreensivelmente atolhados, sou grata por ter comigo crianças, jovens e (agora) adultos que tiram ainda horas do seu tempo para estar nas minhas aulas, nos treinos intensivos extra, nas manhãs de "trabalho e foco" em vez de estarem a descansar, por embarcarem nestas aventuras que são montar um espetáculo de dança com tanta gente de idades tão distintas.
As palavras já não me saiem. Já lhes disse tudo. A muitos deles, individualmente. Da Cinderela, passámos ao Aladino e este ano, concluímos a Pocahontas. Foi um prazer recriar mais uma história da Disney com e para seres humanos maravilhosos que fazem parte da minha vida todos os dias. Posso muitas vezes sentir-me cansada, mas não sinto que trabalhe no verdadeiro sentido da palavra. É tão bom fazer o que se ama.
"E para o ano, Joana, qual vai ser o tema?"
Mais uma vez, eles já o sabem... mas por aqui, ainda vou deixar "no ar". Perdoem-me a maldade :) Sintam-se à vontade para dar palpites!
Para verem o vídeo do espetáculo no primeiro dia (ainda que eu ache que em alguns dispositivos o movimento está um segundo atrasado em relação ao som), o link é este.
Os meus agradecimentos foram feitos a duplicar, nos dois dias de espetáculo. Depois, nas redes sociais e outros tantos reforcei individualmente. Por isso, para que este texto não fique gigante, poupo-vos a essa parte :) As pessoas às quais estou muito grata sabem quem são. Tenho sido muito "chata" a tentar comunicar essa gratidão toda <3
Este ano, como não tive tempo para arranjar um fotógrafo profissional, deixo-vos também com algumas fotografias de amigos, amantes da arte fotográfica e de pais. Todas tiradas com carinho. E com emoções genuínas.
Coreografia da "passagem do testemunho" das personagens principais dos anos anteriores aos deste ano:
Pocahontas de outras histórias:
A todos os meus alunos que terão de "voar" para outros lugares, mesmo não querendo:
Pela vossa vida fora levarão a dança nas veias, o ritmo no corpo e, espero, levar-me-ão a mim e aos vossos companheiros de palco no coração. Por isso, apenas o que é físico nos poderá distanciar. Estou sempre convosco <3 Obrigado por todos estes anos maravilhosos em que aprenderam comigo e eu pude aprender também convosco. Não são meus alunos, são meus amigos <3 Adoro-vos, sem exceção.