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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Qua | 19.09.18

Estar cansado: a subvalorização de um estado que pode ser sério

Quando as pessoas que nos rodeiam veem em nós indivíduos que estão sempre a fazer muita coisa ao mesmo tempo, tendem, mesmo sem querer, a desvalorizar quando utilizamos as expressões: "estou cansado/estou de rastos".

Imediatamente vem a resposta "Tu? Vá, deixa-te disso, tu consegues tudo", ou outras parecidas.

Apesar de existir da parte da pessoa cansada um profundo agradecimento pelo apreço, o apoio e a tentativa de meter o "astral para cima", expressões como a que referi acima chegam a frustrar-nos. Porque sim, frustra. Frustra ser sempre o esforçado, o dedicado, o mr ou miss sorrisos, o atencioso, o multi-funções, o super-homem/mulher. Temos direito a sentirmo-nos cansados, e esse conceito, utilizado por quem anda sempre numa roda viva, talvez seja motivo de alerta. Talvez as pessoas que afirmam estar de rastos (quando, na realidade, parecem ter tempo e energia que nunca mais acaba) estejam a pedir "socorro" por se sentirem numa fase em que nada flui: nem a cabeça nem o corpo obedecem à sua versão natural do "tenho-mil-coisas-para-fazer-e-gosto-disto-assim." Talvez queiram apenas ouvir da boca de terceiros que não faz mal descansar; não faz mal querer fazer uma pausa; não faz mal se quiserem parar; que nem sempre desistir de algo é dar parte fraca; que sofrer de ansiedade não é só para os mentalmente instáveis; que não existe apenas um caminho ou até mesmo uma direção (há mil e uma ruelas a experimentar, não importa se demoram menos ou mais a chegar ao destino); que não faz mal não quererem estar em modo criação-produção; que é normal sentirem cansaço.

"Tu podes tudo". Certo. Todos podem tudo. Também sou apologista de que 10% é talento e 90% é esforço, e que dentro desses 90% de esforço existem uma série de conceitos baseados em auto-disciplina, espírito de sacrifício, humildade, e muito trabalho e dedicação. Mas também somos todos humanos. E todos podemos precisar de uma mão que nos traga à tona da água para recuperar o fôlego e voltar a mergulhar.

A vida não é só feita de gente otimista e de boas "vibes". Não é feita de fotografias no instagram de olhos serenamente fechados, cara para o pôr do sol a respirar fundo, num bruto cenário e uma descrição zen; a vida também é feita de apneias; E há que saber que elas existem, para que possamos lidar com elas. De nada serve fingirmos (perante nós e perante os outros) que somos sempre otimistas e vestimos sempre os melhores sorrisos. 

Permitam-se encontrar a serenidade em todos os vossos estados. Nos melhores e nos piores

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 Fotografia: Margarida Pestana

 

Ter | 04.09.18

As minhas tatuagens - história e significados

Desde que me conheço que adoro tatuagens e sempre quis fazer várias. Assim que atingi a maioridade, fiz a minha primeira e, recentemente, fiz a terceira. Pelo meio, muitas histórias e muitos significados.

Até ao final da minha vida pretendo fazer sete. Podia encher-me já de todas elas mas acho que, como para tudo, existe o tempo certo. Hoje venho mostrar-vos as três que já fiz e venho contar-vos o que significam:

 

"Born to dance"

Fiz esta tatuagem com 18 anos, depois de ter entrado na licenciatura em Dança. Foi uma imagem desenhada pelo tatuador da loja Station do Colombo, depois de eu lhe ter mostrado os vários elementos que queria incluir: uma sapatilha de Ballet, um téni (vá, malta do norte, desculpem lá mas eu não chamo sapatilhas aos ténis) a representar o Hip Hop e a frase "born to dance". Foi a primeira, a maior, a mais demorada e elaborada. Foram cerca de duas horas e meia seguidas, entre dores (da realização da tatuagem e também da posição das minhas costas), cócegas e nervosismo. Quando foi terminada, apesar de a ter visto muito vermelha, fiquei apaixonada. Era mesmo aquilo que eu queria: uma tatuagem que simbolizasse a continuação do meu percurso pela dança, que antes era hobbie e estava a tornar-se cada vez mais a sério. A frase "born to dance" era a necessidade de ter a afirmação cravada, para me relembrar que sim, nasci para dançar ainda que poucos acreditassem nisso. 

Passados 7 anos de a ter feito, resolvi retocá-la, desta vez no Colman Tattoo Art. A frase já não teve salvação porque estava muito esbatida. Perguntaram se eu queria preencher a fita da sapatilha para tapar a frase e eu não quis. Ficará esbatida para simbolizar tudo o que mudou desde que a fiz, tudo o que consegui alcançar, tudo o que conquistei na dança. Na minha perspetiva, a frase está esbatida porque já não preciso de a ter consistente no meu corpo para me relembrar que nasci para isto. 

 

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"A chave da liberdade"

Fiz esta tatuagem com 20 anos, também com o Colman. Escolhi uma chave, o tipo de letra e ele juntou tudo, criando este desenho que adorei. Na altura, estava no fim da recuperação de um relacionamento de quatro anos, tóxico e do qual saí com a sensação de que tinha estado confinada a quatro estreitas paredes durante demasiado tempo. Sentia-me limitada e, sendo sincera, durante algum tempo (demasiado) limitei-me muito a mim mesma, consequente da falta de auto estima e da pessoa com quem me encontrava. Esta chave está simbolicamente desenhada no lado esquerdo, porque é o lado do coração. A sua estrutura é literalmente a palavra "Freedom", para que me possa lembrar as vezes que fossem necessárias que a minha liberdade (seja ela de que tipo for) depende unicamente de mim.

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"Harry Potter & Disney"

Esta é a mais recente e simples tatuagem que tenho. Posso considerá-la até minimalista, e é daquele tipo de desenho que nem todos irão entender à primeira vista, o que até me agrada.

É, como o seu "título" indica, a junção do Harry Potter e da Disney. E como? Aglomerando o símbolo dos três talismãs com o icónico rato Mickey que representa a Disney.

E porquê uma tatuagem destes dois pedaços de ficção?

Em primeiro lugar, não são apenas isso. São a representação perfeita de refúgio e inspiração que tive durante a minha infância, adolescência e vida adulta. Em suma, durante toda a minha existência. Tanto o Harry Potter como a  Disney têm feito parte da minha vida, não só em modo lazer como também profissional em alguns casos. É estranho dizer/escrever isto, mas são a magia à qual sou tão grata de ver e sentir em formato de livro, de filme e com os espetáculos que coreografo; este estranho desenho no meu antebraço direito é também uma dedicatória à minha criatividade e à minha infância, e a esperança de que nunca acabem.

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Como já referi na introdução, quero fazer 7 tatuagens no total, portanto ainda nem a meio caminho vou. No entanto, se me perguntarem quais serão as próximas, não vos saberei responder. O número 7 provém apenas de superstição aliada ao facto de ser o meu mês de nascimento. Mas não tenho uma lista das que quero e de quando as quero. Acho que terão mais significado se as fizer num momento em que sinto que é o certo e sobre aquilo que, de momento, me parecer certo também. É assim que se contam histórias com o corpo. Com linhas marcadas por vivências reais.