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Palavra de Bailarina

Para além de dançar o Mundo, gosto de escrevê-lo

Qua | 29.02.12

Os mandamentos de um bailarino

 
 


Hoje uma das nossas professoras da Faculdade afirmou:
"A verdade é que nós, bailarinos, não somos nem nunca vamos ser pessoas normais.
Senhora Professora, você diz e nós acreditamos. Ou melhor... confirmamos! x)

Bailarino que é bailarino:

Associa movimento a cada música que ouve, e dá-lhe VIDA;
- Deixa de sair com os amigos para ensaiar para um espectáculo ou treinar para uma competição;
- Vê o suor como um bom sinal, mas não por motivos estéticos. Vê-o como um sinal de bom trabalho;
- Orgulha-se de se sentir dorido. Prova o esforço;
Salta refeições. Não por querer emagrecer ou auto detruir-se, mas porque está tão embrenhado no que está a fazer, que se esquece de comer ainda que esteja com fome;
- Cura as suas próprias lesões. Médicos? Para quê? Só em caso de vida ou de morte. Se cada vez que nos lesionamos fôssemos ao médico, então em vez de um curso artístico, mais valia tirar medicina;
- Ouve uma música que conhece e começa a dançá-la no meio da rua. Por vezes esquecemo-nos que o resto do Mundo não está habituado a esse tipo de "explosões" x) (no metro então, não há melhor para nos chamarem de maluquinhos);
- Passa um dia inteiro no backstage quando a actuação é só à noite. Haja paciência;
- Não consegue estar descalço sem começar a esticar os pés e a levá-los à meia ponta. Torna-se um tique;
- Adormece em posição de Passé ou a fazer exercícios de stretch;
- Sente as batidas de uma música, contraíndo os músculos das pernas;
- Habitua-se a ouvir que não foi talhado para esta profissão. E aprende a desenvolver o sarcasmo como mecanismo de resposta;
- "Apanha" o cabelo e muda de roupa em tempo recorde. 5 segundos chegam.
- Desenvolve um mecanismo automático a estalar partes do corpo , e só se apercebe a anormalidade da situação quando as pessoas à volta fazem cara de nojo ou de pânico.
- Vê uma pessoa não-bailarina com um Coûtes de Pies perfeito e pensa: "PUTA.Que desperdício!"
- Não consegue estar sentado no chão sem se pôr a exercitar a flexibilidade;
- Perde uma unha do pé ou fica com a pele em carne viva, e vê isso como o "pão nosso de cada dia";
- Só se apercebe das suas extraordinárias capacidades quando vê uma "pessoa não bailarina" a dar um passinho de dança;
- Chega mais cedo ás aulas e/ou treinos só para aquecer e relembrar coreografias;
- Leva o conceito de "contacto físico" descontraídamente. O que as pessoas não-bailarinas consideram uma invasão ao seu espaço, os bailarinos acham normal;
- Habitua-se a ter todos os olhos centrados em si em determinados momentos.

ETC ETC ETC...
A verdade é que existe um ténue traço de loucura que nos distingue do mais comum dos mortais.
Especiais? Não. Diferentes. E na esmagadora maioria dos casos: felizes!


Enquanto respirar, vou continuar a defender a minha afirmação: Bailarino não é menos que um engenheiro, um advogado ou um médico. Pode não transformar esboços em casas, mas transforma estúdios e palcos na 2ª casa de muita gente; pode não defender a justiça com a Lei, mas defende pontos de vista com expressão e movimento; pode não salvar vidas, mas MARCA VIDAS.
Bailarino que é bailarino não precisa de mais nada enquanto estiver apto a fazer tudo isto.