Bons bailarinos, maus bailarinos
Se há coisa que me enerva profundamente são bailarinas e coreógrafos arrogantes e de nariz empinado. Uma coisa é ser-se confiante, outra coisa é meter nojo!
Sei que é o que há mais por aí, infelizmente. E que nas artes performativas, principalmente, a competitividade leva-se ao limite, ao ponto de existirem profissionais a lutarem para atingir os seus fins arruinando, com prazer, o trabalho dos outros. Muitas(os) merdosas(os) dessas(es) já me passaram pelas mãos, já foram meus colegas e até meus amigos.
Mas agora pergunto: PARA QUÊ, SENHORES? Para conseguirem um trabalho a mais, para esfregarem na cara da população o quão são bons, famosos e lindos, a aparecer na televisão e a dançar para pessoas (que se dizem) importantes. Quando se utiliza a expressão "sangue, suor e lágrimas" não é suposto ser o sangue e as lágrimas dos outros, mas sim os nossos respectivos!
A realidade é que, para além da paixão por esta arte, considero-a um mundo de trampa.
Ao falar com a minha mãe sobre um assunto em particular, sobre uma bailarina que nos deixa a ambas pelos cabelos, ela disse-me: Pode ser muito boa no que faz, mas aquela arrogância não a vai levar a lado nenhum. A carreira dela vai acabar em três tempos.
Infelizmente, não é bem assim. Aliás, muito pelo contrário. Os mais arrogantes, os que mais espezinham, os que mais graxa dão (daquela que se topa a milhas) ... são os que melhor vão singrar na Dança. E ainda vão atirar isso à cara dos que não conseguiram. Bem vinda ao mundo da Dança, mãe.
Agora, directamente para esses pequenos mete-nojo, há uma coisa que têm de meter na cabeça: os vossos ossos não colaborarão convosco para sempre, a vossa cara não vai ser sempre linda, o vosso corpo nem sempre será todo fit e alongado. Os argumentos para conseguir determinados trabalhos voarão com o vento e com o vosso envelhecimento. E depois? De que vos restará anos e anos a espezinhar os humildes? Esses, por essa altura, terão contabilizado melhor os seus passos, escolhido bem os seus caminhos, ou pelo menos... viverão de consciência mais tranquila.
Para mim, um bom bailarino não é aquele que dança maravilhosamente bem, mas que não lhe cabe um feijão frade no cu.
Para mim, um bom bailarino pode nem sequer vencer pelo talento, mas vence pelo esforço. E nunca, mas nunca se esquece de onde veio. Porque mais tarde ou mais cedo, irá lá parar de novo. E precisará daqueles que lá ficaram, a torcer pelo seu sucesso, para os receber.