Desabafos em quarentena #1 - Cada um ao seu ritmo
Não farei deste regresso ao blog um "diário de Covid-19", prometo. Se fosse para isso, preferia não regressar de todo, porque já existe demasiado ruído sobre o tema, à nossa volta. Mas esta "casa" não deixa de ser minha, e também não vou ignorar o que se está a passar, principalmente quando já não suporto que todas as conversas entre as pessoas acabem com um "vamos todos ficar bem" e um arco-íris (perdoem-me todas as que o fazem, sei que são bem intencionadas, mas já parece quase uma seita religiosa). Há pessoas que , como eu, neste momento, preferem ouvir/ler um "sei o que sentes e não faz mal senti-lo" ou "não faz mal chorares", ou "é normal sentires-te inútil no meio de tanta gente que teima - e ainda bem! - mostrar o quão produtivas, glamorosas e espetaculares estão a ser nestes dias", ou até mesmo ouvir um "não precisas de tirar o melhor partido da quarentena e ser ultra otimista, neste momento. Hás de lá chegar quando te sentires confortável." Não me interpretem mal, ainda bem que existem as "pessoas arco íris", não só para se sentirem melhores com elas mesmas, mas para fazerem outros tantos sentirem-se melhor também. Mas não somos todos assim. Não estamos todos a conseguir ser influenciados por essa onda colorida, da roupa bonita para ficar em casa, da maquilhagem, da operação "fit em casa". Gostávamos de ser, talvez, mas não somos, e não faz mal.
Esta tem sido uma luta lixada para todos. De repente, as poucas certezas que temos sobre o futuro parecem desvanecer-se, e se há dias em que ainda lhes conseguimos "sentir o cheiro" e aguentar, noutros parece que essas certezas desaparecem no meio das paredes da nossa casa, para as quais já estamos fartos de olhar. Há quem só comece a entrar em pânico agora pela quantidade de dias em clausura, ou porque os primeiros dias até souberam bem para descansar. Eu fui ao contrário: entrei em pânico no exato instante em que me disseram “tens de parar de trabalhar, já não é seguro”. Foram dias negros em vários e amargos sentidos. A frustração, a angústia e a ansiedade continuam cá em larga escala, não se deixem enganar. E até a culpa, quando, bem intencionadas ou não, as pessoas me dizem "o teu bebé também sente o que estás a sentir". E essa é a cereja no topo de um bolo estragado, porque não quero, de todo, que ele conheça já tamanhas sensações negativas. Mas por mim e pelos meus, estou a tentar adotar outro tipo de pensamento, a um ritmo que é só meu. São mais os dias em que não dá para o fazer do que aqueles em que efetivamente consigo fazê-lo. Mas vou tentando, dia após dia, tornar-me numa equilibrista de corda bamba em plena tempestade.
Não, não vou acabar esta rúbrica dos "Desabafos em quarentena" com um #vamostodosficarbem. Prefiro um #façamavossaparte.