Harry Potter and the cursed child - a eterna sensação de "voltar a casa"
Nunca fui de grandes "fixações". Tive os meus ídolos de infância e adolescência, daqueles que me passavam muito rápido, na realidade. Nunca quis "ser alguém" cujo trabalho admirava. Nem desejei ser amigo de um famoso qualquer. Nada dessas coisas pelas quais muita gente passa. Mas sempre fui orgulhosamente "Harry Potter addicted", uma verdadeira geek e entendedora do assunto, daquelas que lia os livros em duas tardes e queria sempre mais, e mais. Daquelas que via (e vê) os filmes vezes sem conta sem se cansar, principalmente naqueles dias em que estava (estou) mais em baixo.
Portanto, voltar a ler algo da J.K.Rowling, voltar a "encontrar" Hogwarts, King's Cross Station, Godric's Hollow, voltar a "ler" (ouvir, quase) Harry, Hermione, Ron, Giny, Draco e todos os outros, é de uma verdadeira felicidade e nostalgia.
Esta edição especial "Harry Potter and the cursed child" foi lida por mim em dois dias. Acabei há pouco, e tinha de vir escrever isto. Li-o em tão pouco tempo quanto os outros, e se por um lado, não me arrependo (nunca tive em mim uma ânsia tão grande de terminar de ler livros como os desta saga), por outro lado, gostava de ter mais tempo para disfrutar do assunto. Esta é uma verdadeira sensação de "voltar a casa", uma "casa" que nunca desilude. A J.K Rowling conseguiu prender-me uma vez mais ao papel, ao enredo, a tudo.
Quando leio "Harry Potter", na realidade, não estou a ler. Estou a viver, a sentir. E talvez muita gente se esteja a rir neste preciso momento, devido à minha intensa afirmação. Mas não minto. Estou tão à vontade com todos aqueles "lugares" e todas aquelas "personagens", que é quase como se fosse uma companheira silenciosa dos mesmos.
Comecei a ler "Harry Potter" aos 8 anos de idade. O primeiro livro havia saído há cerca de três anos, e a minha mãe comprou-o com curiosidade, leu-o e esqueceu-o na prateleira do escritório, onde o fui encontrar. Ainda a capa era a mais antiga, toda roxa, com metade de uma vassoura, umas pernas e pés suspensos, e uma coruja branca. Chamou-me a atenção porque eu colecionava bruxinhas e adorava corujas. A minha mãe disse-me "lê, agora já tens idade para compreender. Vais gostar!" e foi assim que me "apaixonei" por aquele mundo à parte. O meu fascínio pelo Harry Potter coincidiu com a vinda do primeiro filme, que fui ver com a minha melhor amiga da altura (ainda a mesma de agora) na véspera de Natal, com o pai dela. O meu irmão tinha 22 dias de idade, e por isso os meus pais ficaram por casa.
Ainda mais apaixonada fiquei por tudo aquilo, e por isso, escusado será dizer que os restantes livros vieram parar às minhas mãos sempre no dia seguinte a aparecerem nas livrarias portuguesas. Lembro-me de andar no 4º ano e passar os meus intervalos de meia hora deitada nas escadas da escola a apanhar sol e a ler Harry Potter.
A uma determinada altura, as personagens principais tinham mais ou menos a mesma idade que eu, pelo que ainda se tornou tudo mais "envolvente". Eu compreendia-os, e eles compreendiam-me a mim. Digamos que eu cresci com o Harry Potter, e o Harry Potter cresceu comigo. E nunca tive vergonha disso. Tive até orgulho.
Como os "Harry Potter addicted" costumam dizer, "ainda estou à espera da minha carta de admissão em Hogwarts". Acho que estaremos todos eternamente à espera. Já me tinha conformado da ideia de que não haveriam mais páginas de Harry Potter para ler, e depois disso tive de assimilar o facto de já não haver mais filmes para ver. Chorei nestas duas despedidas. Parte da minha infância teve de ir com esta "fantasia", mas ficou sempre guardada.
Nestes últimos dois dias, pude receber o mundo "Harry Potter" de novo, de braços abertos. Não estava à espera de o voltar a fazer. Foi um encontro breve, mas maravilhoso.
Hoje não choro (tenho 24 anos, WTF), mas podem ter a certeza que ainda estou muito feliz pelo facto de ter voltado a "acordar" esta minha pequena obsessão, por meros instantes. Foi como se bons e velhos amigos tivessem ido numa viagem longa e retornassem para me rever por breves instantes. Ou vice-versa.
"Pelas barbas de Merlin"... que saudades disto :')